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Notícia

Ansiedade financeira: veja dicas para trabalhar a mente e evitar gastos

Escolher a hora adequada para fazer compras e limitar o uso do cartão de crédito são algumas das medidas que podem ajudar no controle de gastos.

Além de causar prejuízos ao bolso, as dívidas muitas vezes afetam vários outros aspectos da vida dos endividados – entre eles, o psicológico.

Um levantamento da Serasa feito com 5.225 pessoas em novembro de 2022 mostrou que, dos entrevistados, a maioria relatou problemas emocionais causados pela situação financeira. Daquele grupo, 61% viveram ou vivem sensação de “crise e ansiedade” ao pensar nas dívidas.

Especialistas ouvidos pelo g1 apontam que a chamada "ansiedade financeira" vem crescendo entre os brasileiros. Esse sentimento pode estar relacionado tanto às dificuldades em lidar com as contas, quanto ao ato de "descontar" frustrações do dia a dia em coisas que envolvem o dinheiro.

A boa notícia, no entanto, é que há formas de trabalhar a mente para aprender a melhorar a relação com as finanças.

A ansiedade e o dinheiro

O Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Dados da instituição mostram que, em 2019, quase 10% da população brasileira – cerca de 18,6 milhões de pessoas – sofria com o problema. Esse número pode ser revisado nas próximas edições da pesquisa, principalmente tendo em conta que o mundo viveu um longo período de pandemia.

Fernanda Moura, psicóloga e especialista em neuropsicologia, explica que a ansiedade, por si só, é uma emoção básica natural ao ser humano, que tem como função "nos deixar alerta para um possível perigo futuro".

"A questão é que aprendemos a não aceitar e não lidar com essa emoção. É o famoso 'deixar para lá', e é aí que entra a parte financeira. Tentando diminuir a ansiedade, transferimos nosso foco para outras áreas. Compras são uma delas. Assim, muitas vezes temos atitudes impulsivas relacionadas às compras (para descontar a frustração trazida pela ansiedade). E isso vai se tornando um ciclo", diz Fernanda.

A atitude de comprar por impulsividade para reduzir a ansiedade, porém, além de pesar no bolso e aumentar as chances de uma pessoa se endividar, também não é o ideal para tratar o problema. "Como forma de diminuir a ansiedade e não comprar por impulsividade a primeira coisa é organização e planejamento. Quando temos um plano é mais fácil lidar com a ansiedade", destaca a psicóloga.

Fernanda comenta que a melhor maneira de começar a lidar com os aspectos que geram ansiedade é por meio de terapias com profissionais da psicologia. Em contrapartida, a especialista dá dicas de hábitos comportamentais que podem ajudar a evitar as compras por impulsividade e o consequente endividamento.

Anotar tudo que entra e tudo que sai da conta

Para a psicóloga, um dos principais pontos para lidar com a ansiedade financeira é o controle de gastos, fazendo anotações de todo o dinheiro que entra e que sai da conta em um mês. "Assim, vamos tendo ideia do quanto muitas vezes gastamos por impulso".

Wanessa Guimarães, sócia da HCI e planejadora financeira, pontua que as anotações sobre as movimentações financeiras podem ser feitas como e onde forem mais convenientes para a pessoa – de um bloco de notas físico a uma planilha no computador.

"É importante anotar tudo o que se gasta, até uma água na rua ou um estacionamento. A grande maioria dos clientes que eu atendo não tem essa visualização dos gastos de consumos pequenos, mas que no final do mês podem fazer toda a diferença", afirma a especialista.

De acordo com Wanessa, ao fazer esse controle, é necessário sinalizar tudo o que é ou não essencial para a família. "As vezes cortar uma pizza no fim de semana não faz tanta diferença no saldo total, mas causa um impacto emocional muito grande que desestimula o processo de poupar. A TV a cabo, por exemplo, pode ser algo que não seja tão utilizado e possa substituir de forma menos dolorosa essa pizza. Varia de caso para caso".

Cuidados com o cartão de crédito

O cartão de crédito é a principal fonte de endividamento dos brasileiros. Segundo o Mapa da inadimplência da Serasa, em dezembro passado, 69,43 milhões de pessoas estavam endividadas e, desse total, 28,70% das dívidas foram adquiridas pelo cartão de crédito.

Tendo em vista as dificuldades que muitas pessoas encontram em usar corretamente o cartão de crédito, a psicóloga Fernanda afirma que uma estratégia é evitar sair com o cartão na carteira, principalmente ao ir a locais que podem levar a compras por impulso, como shoppings. Uma alternativa é ir com o "dinheiro contado" para comprar aquilo que já foi mapeado antes de sair de casa.

Além disso, Wanessa também aconselha a quem quer ter um maior controle com o crédito a redução do limite do cartão (que deve ser negociado com o banco) e que sejam evitados parcelamentos muito longos sempre que possível, já que "quanto mais parcelas, mais fácil fica perder o controle da dívida, do quanto ainda falta pagar".

Escolher bem a hora de comprar

De acordo com Fernanda, há dois principais momentos a serem evitados na hora de escolher quando fazer compras: em dias de pagamento e em dias de emoções muito negativas.

"Quando temos mais dinheiro na conta (dias em que a empresa faz os pagamentos ou quando há o recebimento de outros valores), há uma tendência maior de agir por impulso", explica a psicóloga. Por isso, comprar nesses momentos pode ser uma armadilha para quem precisa controlar os gastos, já que ter mais dinheiro na conta limita a ideia de escassez que pode prevalecer no fim do mês.

Da mesma forma, em dias em que uma situação triste acontece ou outras emoções negativas prevalecem, a ansiedade pode levar ao desejo de comprar para proporcionar um alívio momentâneo nos sentimentos. Nesse sentido, fazer compras em momentos assim não é recomendado.

Regra dos 5

A regra dos 5 é um hábito a ser adotado antes de toda compra, principalmente naquelas que são feitas em momentos de grande emoção.

Na prática, nada mais é do que, na hora em que surge a vontade de comprar alguma coisa, parar por cinco segundos e fazer três perguntas para si mesmo:

  1. Eu preciso disso?
  2. Eu devo comprar isso?
  3. Eu posso pagar por isso?
"Se as respostas foram sim, aí você pode comprar. Mas normalmente na primeira pergunta a resposta já é não", comenta Fernanda.

Wanessa ressalta que, quando uma pessoa tem um desejo de consumo, é necessário refletir sobre aquilo ser apenas um desejo ou uma necessidade.

"Para quem está endividado, é ainda mais necessário deixar o dinheiro focado para o que é necessidade. Tem muita gente que toma empréstimo para realizar o que é desejo e não necessidade", conclui a planejadora financeira.